PREVENSÃO DE HIPERTENSÃO
Exercício e hipertensão arterial
Devido ao estilo de vida cada vez mais sedentário e à tendência para uma alimentação pouco saudável, a prevalência da hipertensão tem vindo a aumentar de forma importante.
A HIPERTENSÃO ARTERIAL (HTA) é uma doença crónica grave que se apresenta como uma das principais causas de doença cérebro-vascular (como a trombose) e complicações cardiovasculares, bastante frequentes na população Portuguesa. A agravar esta situação, sabe-se que muito raramente esta patologia apresenta sintomas na sua fase inicial, facto que condiciona a realização de um diagnóstico atempado e a prevenção de danos, muitas vezes irreversíveis, nos vasos sanguíneos e órgãos vitais.
Quantas pessoas são hipertensas?
Estima-se que em Portugal, e segundo dados recentes da Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares do Alto Comissariado da Saúde, cerca de 42% da população seja hipertensa, apesar de uma percentagem considerável não estar diagnosticada.
Definição
A pressão arterial (pressão exercida pelo sangue na parede das artérias) depende da quantidade de sangue ejectada por minuto e da resistência vascular periférica (relacionada com a vasomotricidade dos vasos sanguíneos). Poder-se-á estabelecer um paralelismo com uma mangueira ligada a uma torneira: quanto maior o caudal de água que “corre”, e quanto menor o diâmetro da mangueira, maior a pressão dentro da mesma. Nas nossas artérias passa-se o mesmo, estando estas sujeitas a uma pressão, de intensidade variável.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera-se que uma pessoa é hipertensa quanto apresenta valores de Pressão Arterial Sistólica (PAS) iguais ou superiores a 140 mmHg e valores de Pressão Arterial Diastólica (PAD) iguais ou superiores a 90 mmHg. Contudo, as pessoas medicadas com terapêutica anti-hipertensora e que, por isso, apresentem valores considerados normais, são também incluídas na classificação de hipertensão.
O diagnóstico é feito através de uma medição dos valores de Pressão Arterial, com recurso ao esfigmomanómetro.
Que complicações pode trazer a hipertensão?
O AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM) preconiza que o risco de algumas doenças/complicações pode iniciar-se abaixo dos 140/90 mmHg. Alguns dos principais tecidos e orgãos alvo podem ser directamente lesados, nomedamente: os rins (com possibilidade de deterioração da função renal), o cérebro (possibilidade de ocorrência de AVCs - acidentes cerebrovasculares), os olhos (diminuição progressiva da acuidade visual) e o coração (maior risco de angina de peito ou enfarte agudo do miocárdio). A hipertensão pode também provocar uma disfunção e inflamação da parede das artérias, podendo gerar o fenómeno de arterioesclerose (espessamento e endurecimento das paredes arteriais).
Como prevenir a hipertensão?
O controlo da pressão arterial pode ser alcançado através de adequadas medidas dietéticas aliadas à adopção de um estilo de vida saudável e activo, sem deixar de ter em conta a eventual necessidade de terapêutica farmacológica.
EXERCÍCIO:
TREINO CARDIOVASCULAR (OU TREINO AERÓBIO)
O programa de treino para hipertensos deve privilegiar o trabalho cardiovascular, complementado
com o treino de força. O treino aeróbio quando praticado 3 a 7 vezes por semana, com sessões de 30-60 minutos, é efectivo na redução da Pressão Arterial, contribuindo para isso vários factores, entre os quais a redução da gordura localizada na região interna do abdómen (ver caixa). Esta prática não tem necessariamente de ser muito intensa, sendo encontrados imensos benefícios com intensidades leves a moderadas, correspondentes a esforços que elevam a frequência cardíaca e a frequência respiratória acima dos valores de repouso, mas em que é possível manter uma conversação normal. Em relação ao dispêndio energético, é recomendável um gasto de 1500-2000 kcal/semana em actividades físicas (ACSM, 2006).
MECANISMOS QUE EXPLICAM A REDUÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL COM O EXERCÍCIO:
1. Redução do débito cardíaco (em particular pela redução da frequência cardíaca e/ou da resistência vascular periférica em repouso e em esforço;
2. Aumento de substâncias vasodilatadoras;
3. Redução da gordura visceral;
4. Redução de hormonas estimulantes (p.ex. a adrenalina, noradrenalina e dopamina.
TREINO COM CARGAS ADICIONAIS (OU TREINO DE FORÇA)
Apesar de não representar a principal forma de exercício para hipertensos, pode ser bastante útil se combinado com exercício aeróbio. Deve ser privilegiado um número de repetições entre 10 e 15, sem que as cargas sejam demasiado elevadas (percepção de esforço leve a moderado). Este tipo de treino deverá ser realizado 2 a 3 vezes por semana.
Precauções e Cuidados Especiais
Os indivíduos hipertensos, bem como os especialistas em exercício que os acompanham e demais agentes de saúde, deverão ter especial atenção a alguns critérios de segurança, nomeadamente:
1. O praticante hipertenso não deverá realizar exercício se a PAS for superior a 200 mmHg ou a PAD superior a 110 mmHg;
2. Em esforço, se atingir valores de PAS de 250 mmHg e/ou de PAD de 115 mmHg deverá interromper o exercício físico;
3. Evitar a manobra valsalva (referente ao bloqueio respiratório por encerramento da glote);
4. Evitar a realização de exercícios com cargas moderadas a elevadas e com os dois braços em simultâneo acima da linha dos ombros, tendo em conta a maior probabilidade de aumento da pressão intra-torácica;
5. É fundamental a realização de um bom retorno à calma, para evitar hipotensão pós-esforço;
6. Os beta-bloqueantes e os diuréticos podem causar uma deficiente termoregulação durante o exercício em ambientes quentes e húmidos. Como tal, dever-se-á prevenir o sobreaquecimento (constante hidratação, roupas leves e frescas) e estar informado sobre os sinais e sintomas de intolerância ao calor;
7. Os diuréticos podem causar um decréscimo de potássio e possíveis arritmias.
Alimentação
A redução do peso e a adopção de uma dieta alimentar regrada contribui, em associação com a actividade física, para o controlo da Pressão Arterial. Neste âmbito, recomenda-se reduzir a ingestão de sal (consumo máximo de 2000 mg de sódio; < 5 g sal/dia) e realizar uma dieta rica em frutas e vegetais. Também a ingestão de gorduras saturadas (ex: carne vermelha) deve ser reduzida ao mínimo, privilegiando as gorduras insaturadas, presentes nos peixes gordos e no azeite. Em termos de oligolementos deve aumentar-se o aporte de potássio, cálcio e magnésio. O consumo de álcool deverá ser moderado, num máximo de 2 bebidas/dia para os homens e uma bebida no caso das mulheres. Em suma, a Hipertensão Arterial é uma doença que geralmente não apresenta sintomas, e cujo pilar base da prevenção e tratamento assenta na complementaridade entre um estilo de vida fisicamente activo e uma alimentação adequada. Contudo, o recurso à medicação (devidamente prescrita pelo médico) pode ser importante na reversão da situação clínica de casos mais complexos.
O programa de treino para hipertensos deve privilegiar o trabalho cardiovascular.